Dia desses, Natal se aproximando, dirigia na Perimetral um tanto tristonha, sem um motivo aparente. O estranho é que era uma sexta-feira, dia de happy-hour, de se reunir com os amigos... Enfim, um dia "F", de farra, festa, fim de semana, felicidade e, no meu caso, de fossa. Às vezes acontece. Normal. Não vou me martirizar por isso... Ninguém é feliz o tempo todo. Nessas horas, nada melhor do que ficar sossegada em casa, escutar uma boa música, ver um DVD, comer besteira... Maravilha! São os planos da minha sexta-feira-sem-sal.
Desligo o motor, entro em casa e vou direto para o meu quarto. E eis que avisto um envelope em cima da minha cama, aguardando ser aberto pelo destinatário ou por mim. Não era conta para pagar nem informativo do banco, mas a carta de uma amiga que mora distante. Embora a gente mantenha o contato por todos os meios virtuais existentes - msn, orkut etc. -, eu não esperava receber uma carta dela ou de quem quer que seja. Na verdade, o que menos importa é o remetente. Não que a minha amiga não tenha importância. Mas a carta tornou-se o centro das minhas atenções naquele início de noite.
Era uma carta de Natal, delicada, com muitos adjetivos. E foi ela a responsável por mudar o meu humor naquela sexta-feira. Há muitos anos não recebia uma correspondência, papel, impresso, escrito de próprio punho, assinado. Fiquei pensando na época em que minha mãe montava a árvore de Natal com alguns poucos enfeites, já que o restante da decoração ficava a cargo dos cartões de "boas festas" que recebíamos. Colocávamos todos ali, todos igualmente iluminados. Agora, nossa árvore precisa até de reforço, um bom suporte para aguentar tanto penduricalho. Ela continua linda, porém menos humana.
Fui tomada por um sentimento de nostalgia. Um sentimento bom, mas de nostalgia, de quando as pessoas pensavam mais nas outras. Quem se dá ao trabalho hoje de ir a uma loja; escolher um cartão bonito e com dizeres prontos que buscam se aproximar daquilo que você deseja falar para o outro; pensar em palavras verdadeiras e colocá-las no papel - às vezes, isso implica passar o rascunho a limpo -; ir aos Correios, pagar por isso e, por fim, despachar seus sentimentos?
Incrível. E é estranho achar isso incrível... Senti-me lisonjeada por ser lembrada, querida e por alguém investir seu tempo nessa tarefa de cuidar do outro, de uma amizade. Novos tempos, velhos e belos costumes! Coloquei o cartão na árvore como uma criança que coloca seu sapatinho na janela à espera do Papai Noel... Feliz sexta-feira!
